Aprenda a reconciliar-se com quem você precisa!

Na minha experiência pessoal e como psicólogo lidando com o ser humano, eu diria que poucas coisas são mais difíceis do que perdoar uma pessoa.

Em geral, nós somos pessoas muito orgulhosas.

O nosso ego é inchado e sensível.

Quando alguém nos fere ou nos prejudica, a primeira reação que temos é a de pensar que isso não pode ficar impune!

Nós temos um instinto de autopreservação inconsciente que nos impele a querer punir a pessoa, fazê-la pagar pelo que fez para desencorajá-la a nos ferir novamente.

Por isso, muitas vezes, o perdão cria esse paradoxo.

Se eu não perdoo, a mágoa e o ressentimento me consomem e quem sai perdendo é a minha saúde e a minha paz. Não existe nada mais corrosivo para a saúde do que a raiva, a mágoa, o rancor.

Mas o relacionamento também sai perdendo, porque a falta do perdão pode decretar o fim de uma longa amizade, de um casamento, de uma convivência familiar…

Por outro lado, se eu perdoo, eu fico em paz comigo mesmo, mas com medo de virar saco de pancada, de ser feito de bobo e permitir que a ofensa se repita.

É o meu instinto de autopreservação ativado.

Daí o perdão ser um enigma para tantas pessoas.

No meu modo de pensar, devemos perdoar sim, quantas vezes forem necessárias.

Na verdade, quem perdoa nunca será o bobo da história.

Infeliz será sempre quem ofende e prejudica.

Mas percebem como é difícil? Pois bem.

Esse artigo foi escrito para quem ofendeu, para quem magoou.

Você precisa do perdão de alguma pessoa?

Como expliquei, perdoar é uma tarefa difícil pra muitos de nós.

Mas existe uma forma de você facilitar as coisas pra quem precisa te perdoar.

Pedindo desculpa de uma forma decente e honesta. É incrível como as pessoas não sabem pedir desculpas.

Certa vez recebi no consultório uma situação que me marcou muito.

Um pai veio me pedir ajuda pra se reconciliar com a filha de 20 anos.

Ele foi pai muito novo, praticamente adolescente.

Ele e a mãe da menina se separaram após o nascimento da filha e ele acabou se afastando das duas.

Foi um pai ausente.

Com isso a filha cresceu

com muita mágoa.

E quando ele me procurou, ela já estava com 20 anos e o relacionamento dos dois era muito precário.

Ele estava muito arrependido da forma como lidou com a situação e tentava uma reaproximação da filha, sem sucesso.

Todas as vezes que ele ia encontrá-la ela o tratava com frieza, com distanciamento.

Ele sofria muito com isso, porque, como eu disse, ele estava sinceramente arrependido.

Então, numa determinada ocasião perguntei para ele:

– Você já pediu desculpa?

– Sim.

– Me conte, como você pediu desculpa?

– Há uns anos eu disse pra ela que eu era muito novo quando ela nasceu, e que a mãe dela era muito difícil.

Falei que todas as vezes que eu tentava uma aproximação, a mãe ficava criando dificuldades.

E que ela, minha filha, também não ajudava muito.

Ficava sempre colocando uma barreira entre nós.

Que eu queria ficar bem, mas não estava conseguindo.

Diante dessa resposta eu disse:

– Olha, esse foi o pedido de desculpa mais miserável que eu já ouvi.

Ao pedir desculpas você se justificou, falou mal da mãe dela e ainda encontrou um jeito de culpá-la também.

Não me admira ela não ter te perdoado.

Por que isso acontece? Porque o mesmo ego que nos impede de desculpar, nos impede de pedir desculpas também, ou seja, o nosso pedido de desculpas é orgulhoso.

Então não convence e não funciona.

Eu disse a ele que iríamos trabalhar esta questão e que após um tempo ele a procurasse para uma nova tentativa de reconciliação.

Que pudesse conversar com ela de uma forma diferente, mais ou menos nesses termos: “Minha filha, me perdoe.

Quando você nasceu eu era muito imaturo e hoje eu enxergo isso.

Não tive condições de ser o pai que você merecia.

Me afastei do seu convívio e nada justifica isso.

Hoje eu sinto muito a sua falta e gostaria de recuperar o tempo perdido.

Me dê essa oportunidade de ser o melhor pai que eu posso ser e que você merece.

Quero participar da sua vida e te ajudar no que for preciso.

Eu te amo muito e me arrependo profundamente dos meus erros.

Se você me der essa chance, se você me desculpar eu serei o homem mais feliz do mundo”.

Ele entendeu a diferença e se comprometeu a criar a oportunidade desse encontro para pedir desculpas de uma forma diferente.

Eu fiquei com grande expectativa depois disso, porque o que estava em jogo era a reconciliação entre pai e filha.

Várias semanas se passaram sem que eu tivesse notícias, até que finalmente ele me ligou e marcou uma consulta.

Sem rodeios fui direto perguntando se ele tinha conseguido conversar com a filha, ao que ele respondeu afirmativamente.

– E aí? Questionei.

– Ela me perdoou.

E hoje frequenta a minha casa e pergunta sobre o meu trabalho.

Nós nos reconciliamos.

Eu fiquei muito emocionado.

Terapia encerrada.

A gente se despediu e nunca mais eu o vi.

Há muitos anos eu atendi uma outra situação com um final bem diferente.

Nesse caso era o filho.

Ele guardava muito ressentimento porque quando criança foi praticamente espancado pelo pai.

Apanhou muito e depois de adulto isso acabou prejudicando o relacionamento entre eles.

Ele não esquecia as surras.

Até que um dia teve a oportunidade de conversar com o pai sobre isso.

Abriu o coração e falou de todas as mágoas represadas, de todo o sofrimento vivido na infância e na adolescência em função de ter apanhado tanto.

Expôs tudo isso na esperança de ouvir um pedido de desculpas.

Só que o pai, ao ouvir aquelas queixas, aquele desabafo, se sentiu criticado, julgado.

E o ego ficou ferido.

Ele era um homem muitíssimo orgulhoso e não suportou.

O sangue lhe subiu à cabeça e ao invés de pedir desculpas ele disse que deveria ter batido mais…

Puxa vida.

Ele disse isso num momento em que o filho estava vulnerável, com o coração exposto.

Então a reação do filho foi dizer: “A partir de hoje, você não é mais o meu pai”.

E eles nunca mais se falaram.

Isso já vai pra mais de 10 anos.

O que impediu esse pai de pedir desculpas?

O orgulho.

Por conta do orgulho, ou a pessoa faz um pedido de desculpas inadequado ou nem faz, como nesse último caso.

Uma outra situação que me recordo, foi de uma mulher que há poucos anos procurou a terapia porque estava sofrendo muito com o divórcio.

Um divórcio que ela mesma pediu.

O motivo foi uma traição do marido.

Eles se casaram muito novos e imaturos, com pouco tempo de namoro.

O marido, ainda muito acostumado às gandaias, não soube fazer a transição para as responsabilidades de um compromisso, e se envolveu com outra mulher.

Ela descobriu e foi tirar satisfação.

Ele disse que estava arrependido e pediu desculpas dessa forma inadequada e pouco convincente.

Com o tempo aquilo foi corroendo em seu íntimo e por fim ela acabou se separando.

E o motivo dela ter procurado a terapia foi porque ela o amava.

Ela queria muito ter continuado casada, mas não conseguiu perdoar.

Compreendi fazendo um aceno com a cabeça e respondi:

– Sim, perdoar é muito difícil, e as pessoas não ajudam…

Ele poderia ter dito:

– Meu bem, eu cometi um erro terrível.

Eu traí a sua confiança e feri a pessoa que mais amava.

Fui em busca de uma aventura e só causei dor e sofrimento.

Hoje eu vejo em você as consequências da minha queda.

Por favor, me perdoe.

Você é muito importante pra mim.

Eu aprendi com os meus erros e quero escrever uma história diferente.

Me dê a oportunidade de reconquistar a sua confiança e te proporcionar a felicidade de ter uma família unida e em paz.

Ao observá-la vi que ela estava chorando muito.

Então ela parou de chorar e disse:

– Ele jamais falaria isso.

– Mas se ele dissesse você voltaria pra ele? Perguntei.

– Com certeza.

Perdoar é uma tarefa muito difícil pra maioria das pessoas.

Por isso, se você quer se reconciliar com alguém, peça desculpas de uma forma sincera, honesta, humilde e decente.

Você facilitará enormemente o trabalho de quem precisa te perdoar!

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Hayslam Nicacio

Psicólogo graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e fundador do Instituto Hayslam Nicacio

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