Barco a vela ou barco a motor?

Viver com Sonhos

“Meu filho, na vida a gente tem que sonhar”.

Cresci ouvindo essa frase do meu pai.

Ele teve uma infância de muita pobreza. Mais velho de cinco irmãos, perdeu o pai com doze anos de idade. Sua mãe era lavadeira. Trabalhou como engraxate e auxiliar de mecânico. Mas contava que sempre teve seus sonhos, suas metas a alcançar. Conseguiu estudar engenharia na Universidade Federal de Volta Redonda e trabalhou trinta e cinco anos numa grande empresa de siderurgia, até se aposentar.

Posso dizer que esse conselho paterno ficou gravado em mim, e desde muito jovem sempre fiquei pensando nas coisas que gostaria de realizar.

Aprendi a sonhar.

Olhando para trás, vejo que este modo de viver a vida fez toda a diferença pra mim, e sou muito grato por tê-lo aprendido. Sem nenhuma sombra de arrogância, posso dizer que consegui conquistar TODAS as coisas que sonhei, até o momento, sem uma única exceção.

Por quê?

Quando sonhamos criamos um alvo, um foco. Sabemos o que queremos e com isso prestamos atenção nas oportunidades que a vida nos oferece para atingir o objetivo.

Parece que “o Universo conspira a nosso favor” quando desejamos algo com vontade.

Tenho conhecido muitas pessoas no consultório que simplesmente não sonham. Muitas vezes porque não sabem o que querem.

Vivem no esquema “deixa a vida me levar, vida leva eu”.

O potencial de realização desse modus operandi é infinitamente menos produtivo.

Costumo dizer que essas pessoas são como barcos a vela no oceano, pra onde o vento levar, elas vão. Só que muitas vezes o barco atraca em portos estranhos, que não as agradam e nem as fazem bem. Quando isso acontece a pessoa volta pro oceano e fica contando com a sorte de ser levada pelo vento pra algum outro lugar mais interessante.

Não é difícil perceber a ineficiência desse estilo de vida.

Por outro lado, comparo quem sonha com um barco a motor. A bússola aponta a direção, o barco aciona as hélices e vai igual uma flecha em direção ao alvo. Podem surgir tempestades e nevoeiros no caminho, mas o roteiro permanece definido.

Ao longo do tempo, trabalhando como psicólogo, comecei a ficar impressionado com a quantidade de gente que vive sem saber o que quer, e fiz uma triste constatação: a grande maioria das pessoas não sonha, não tem objetivos definidos porque vive tanto em função de agradar aos outros, de corresponder às expectativas dos pais ou da sociedade, que nem sequer cogita de escutar os próprios desejos. O que elas querem não interessa, o mais importante é saber o que esperam dela. 

A carência afetiva e a dependência emocional são tão grandes que não deixa espaço pra nada. O EU fica completamente abandonado para dar lugar ao OUTRO.

Qual é a consequência mais dramática dessa situação?

Um enorme vazio existencial.

Não tem como ser diferente, porque, assim, eu estaria vivendo uma vida que não me pertence, com a qual eu não me identifico. É a vida que o outro definiu para mim, segundo as suas expectativas e interesses.

Chamo esse comportamento de prostituição existencial: vender a vida própria em troca de aprovação e afeto.

Paga-se um preço caríssimo.

Infelizmente, a imensa maioria das pessoas sofre de carência afetiva e baixa autoestima. Por isso, é muito difícil encontrar no consultório pacientes que são donos de si mesmos, senhores das próprias escolhas vivendo uma vida autêntica.

O ato de sonhar exige alguns cuidados que vale mencionar. Não devemos ter receio de mirar alto, traçando objetivos de grande alcance e valor, mas também não convém exagerar na altura, distanciando demasiadamente da realidade. O importante é acreditar em si mesmo e aprender a escutar menos os outros e mais a própria voz.

Particularmente, quando eu defino um alvo, quando sonho, gosto de visualizar o objetivo, me imaginar já tendo alcançado, construindo cenas na minha mente com riqueza de detalhes como som, cores, emoções etc. Escrevo essas metas num bloco de notas do computador e me dedico às etapas de realização com perseverança. 

Penso no objetivo com frequência, mantendo a informação na minha consciência.

É incrível o poder que isso tem.

Acreditar ou não vai de cada um…

Mas funcionou para o meu pai e tem funcionado para mim!

“Meu filho, a gente tem que sonhar…”

Sim, é verdade, só que infelizmente, para muitas pessoas isso é mais complicado do que parece…

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Hayslam Nicacio

Psicólogo graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e fundador do Instituto Hayslam Nicacio

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