Neste artigo vou explicar como um antidepressivo funciona e o que você pode fazer para facilitar o seu tratamento.
Existem algumas substâncias no nosso corpo chamadas neurotransmissores.
Eles desempenham vários papéis no nosso organismo, e um deles está relacionado à produção de sensações e emoções.
No caso da depressão, o neurotransmissor que precisamos conhecer chama se serotonina.
É esta substância a responsável pelas sensações de prazer.
Normalmente a pessoa com depressão produz pouca.
Existe uma carência dela no organismo. E é aqui que o antidepressivo entra em ação.
A serotonina quando é liberada age no sistema nervoso central produzindo bem-estar e boas sensações. Sua liberação ocorre num lugar chamado fenda sináptica.
A sinapse é o local de contato entre os neurônios.
O neurotransmissor, como a serotonina por exemplo, é liberado nesse espaço e começa a fazer o efeito, a produzir as sensações. Cada neurotransmissor do nosso organismo produz um efeito diferente.
Mas devemos considerar que o efeito dessas substâncias no nosso organismo é temporário.
Por exemplo, imagine a seguinte situação: você conheceu uma pessoa maravilhosa e começaram a paquerar.
Um dia seu telefone toca e você reconhece seu número no visor do celular.
Seu coração dispara e você começa a sentir uma série de sensações agradáveis.
Seu organismo nessa hora estará inundado de serotonina.
Agora avance um ano no tempo e vamos te encontrar deitado no sofá da sala sorrindo com extrema felicidade.
Alguém te pergunta:
– Qual a razão de tamanha felicidade?
Você responde:
– Estou assim porque meu amor me ligou…
– E quando foi isso?
– Há um ano!
Por que esse exemplo não é compatível com a realidade?
Porque as nossas sensações e emoções começam e terminam.
Acabam. Desta forma, quando o nosso corpo libera a substância, seu efeito não permanece indefinidamente.
Normalmente a desativação dos neurotransmissores acontece de duas formas diferentes: (1) por recaptação ou (2) por destruição.
O neurônio que libera a serotonina na fenda depois de um tempo a recaptura ou então enzimas produzidas no nosso corpo as destroem.
Considerando que a serotonina é a molécula do prazer, significa que o deprimido produz e libera pouco.
Nesse caso o antidepressivo enviará um comando para seu organismo inibindo a recaptação ou a destruição desse neurotransmissor, possibilitando que seus efeitos se prolonguem no organismo.
Existem antidepressivos que impedem o neurônio de recapturar a serotonina, e existem antidepressivos que impedem que ela seja destruída pelas enzimas.
Os que impedem de recapturar mais conhecidos são: fluvoxamina, sertralina, paroxetina, fluoxetina e citalopram.
Os que impedem que ela seja destruída são os inibidores da MAO, ou monoamina oxidase.
Essa monoamina é um exemplo de enzima que destroe a serotonina.
Então é comum você ver escrito: medicação IMAO, ou seja, inibidores da MAO, da monoamina ou da enzima destruidora.
Agora abordaremos a conclusão mais importante do que foi exposto.
A pílula de antidepressivo não é um comprimido de serotonina.
Não é a pílula da felicidade.
Isso significa que o seu corpo é quem tem que produzir e liberar!
O remédio só irá possibilitar que ela produza seus efeitos por mais tempo.
Então, se você toma um antidepressivo, entra pro seu quarto, apaga a luz e fica olhando para o teto dia após dia, pouca coisa vai mudar no seu humor.
Você não está liberando serotonina!!
Não tem como o remédio impedir a destruição de uma serotonina que não é liberada!
Um parênteses para uma observação interessante.
É exatamente esse o mecanismo de ação do Viagra.
O Viagra é um inibidor da destruição do óxido nítrico.
Essa molécula é responsável pela dilatação dos vasos sanguíneos do pênis.
Quando esses vasos se dilatam, aumenta o fluxo de sangue e acontece a ereção.
A enzima que destrói o óxido nítrico é conhecida como PDE5 (fosfodiesterase tipo 5).
O Viagra inibe a PDE5, a enzima destruidora. Desta forma, o óxido nítrico age por mais tempo e a ereção dura mais.
É muito comum encontrar nos textos que informam sobre o Viagra a observação de que ele atua junto com o estímulo sexual, ou seja, você precisa ser excitado para obter o efeito desejado. É necessário liberar o óxido nítrico através de estimulação sexual para ter ereção.
Se o paciente tomar um comprimido de Viagra e se dedicar a uma atividade entediante ou estressante, como escrever um relatório para o chefe no trabalho, dificilmente terá uma ereção!
Entretanto, ninguém explica isso em relação ao antidepressivo.
Porque o mecanismo é o mesmo.
É necessário viver situações alegres, fazer coisas agradáveis que proporcionam prazer para derrotar a depressão.
O remédio somente ajudará a sustentar aquelas sensações agradáveis por mais tempo.
Ele não criará as sensações para o paciente.
Assim como o Viagra não cria excitação.
Por isso, normalmente os psiquiatras aconselham que a pessoa com depressão tome remédio, mas faça terapia, para aprender a lidar com as causas da depressão, encontrando caminhos para superá-la, para modificar as situações e principalmente, mudar a forma de lidar com as dificuldades.
Quem toma antidepressivo e não entende isso, deposita todas as esperanças no remédio e cruza os braços acreditando que não precisa fazer mais nada, só esperar a medicação fazer efeito… e não é assim que funciona.
Então, deixo uma reflexão a você:
O que te dá prazer?
Praticar um esporte?
Encontrar os amigos pra bater papo?
Dançar?
Ajudar o próximo num trabalho voluntário?
Cada pessoa tem a sua maneira de ser feliz.
Descubra a sua e invista nisso.
Se a tristeza te esmaga sem piedade, comece pequeno. Crie pequeninos
momentos de satisfação e movimento que, com o tempo, a paisagem se transforma.
A depressão não é frescura como os ignorantes afirmam.
Mas pode e deve ser tratada.
O remédio irá te auxiliar, mas não deixe de fazer a sua parte!